Universo de Memórias

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Quando nos tornamos os que furtavam

A incapacidade de raciocinar, de compreender, de fazer juízo crítico das coisas, a dificuldade de percepção, de comunicação e "confusão mental" levaram Dona Alzira Margarida, nas fases anteriores(mais acentuada na segunda), à acusações repetidas de furtos.
Furtos que eram dirigidos aos lugares-pessoas onde frequentava à todos nós da casa e mais contundentes ao genro.
Mamis perdia tudo, desde pentes até documentos importantes.
Eu plastificava e autenticava no cartório a documentação dela em grande quantidade(RG-CPF-Telefone-Celulares Nossos-Médicos dela)e até de uma amiga(Mariza-obrigada amiga)prontificada em auxiliar.
Não havia quem a segurasse, nem mesmo as medicações específicas.
Quando meu marido chegava da loja ela dizia:
-Você pegou meus bobies
-Você pegou meu batom
-Você escondeu isso ou aquilo
-Cadê minha sombrinha?
-Você pegou e deu de presente minha touca de banho
Beto baixava a guarda e falava:
-Vamos procurar?
Então ela se manifestava:
-Tá bom. Eu duvido que ache.

HOJE, quando lembro disso me chegam sorrisos.
**"Não se trata de rir da minha fofa, mas sim das particularidades vividas."
"No início não era nada engraçado."
Nós da casa já sabíamos e o Beto também.
Bastava entrar no "quarto-cofre" e tudo era encontrado ou quase tudo!
Dona Alzira era uma ratinha troca-troca de lugares.
Eu, eleita em todos os desaparecimentos. Desde um lápis até dinheiro.
Confusão generalizada, pois toda semana(às vezes mais)meu comparecimento ao Banco para esclarecimentos-elucidações junto aos gerentes.
Ela movimentava suas contas transferindo em espécie de uma para outra.
Óbvio que também retirava e não sei ao certo, até os dias atuais, quais eram os destinos.
Alguns eu descobri mais tarde, outros simplesmente sumiram.
Quando assumi definitivamente esta responsabilidade pude reorganizar este segmento ou o que restou dele.

Após algum tempo nos demos apelidos e aquela tiração de onda com o meu marido...
Hum, batons é???
Ihhh! Bobies?
(Ele autorizou-me a escrever estes detalhes).
Acho este o motivo, entre outros, para ela gostar tanto dele até hoje.
Tínhamos que manter o bom humor, então brincávamos uns com os outros.
Aprendi sozinha, a princípio, com minha pequena família e no tranco.
Já descrevi, certa vez, de todas as coisas depositadas na fronha do travesseiro.
Aquilo pesava uma tonelada!!!
A gente encontrava de tudo ali, especialmente sombrinhas.
E mamis brigava, brigava...no após pedia desculpas.
Foram períodos de muita paciência, irritantes, hilários e de cansaço.
Não sei de onde tiramos a metodologia e organização para não surtarmos juntos com a doença dela.

**Pouco antes do estágio em que se encontra descobri zilhões de objetos nossos na casa dos fundos onde ela vagava e confundia-se levando coisas pessoais de cada um de nós. Foi como se abríssemos o baú das recordações.






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