Universo de Memórias

sábado, 15 de maio de 2010

Os laços de sangue

Não sei onde ouvi esse pensamento, porém cabe aqui:
Essa vida é engraçada, tenho certeza que
Deus dá muitas risadas dos seres humanos.
Quanto mais a gente é um ser emocional, mais a
vida chama pra um duelo racional...
Desconheço autoria

Continuando

Será que os laços de família ou laços de sangue são realmente os laços mais importantes que existem em nossas vidas?
Eu respondo por mim e mãe:
-Deveriam ser!
Quantos benefícios de compartilhamento ficaram no vazio. Quanto carinho inexistente quando minha mãe mais precisou.
Quando mamãe ainda se manifestava a indagação sempre surgia da parte dela:
-Por que ninguém liga pra mim?
-Por que não aparecem mais?
-Me dá o telefone e disca o número, quero falar.
Eu fiz as suas vontades, embora sabendo do desfecho.
Não podia negar isto à uma mãe.
Depois entendemos o "osso duro de roer", mas a mãe não!
Para ela, muito confusa, a família era tudo!
Como explicar todas estas ausências?
No início eu tentava dizer verdades com sutileza e foi o caos!
Tive que mentir ou pior omitir, inventar desculpas.
Ainda tive que defendê-los(igual a desculpá-los)para não magoá-la, para não piorar a situação:
---O Alzheimer!
Compreendi então um dos motivos(por conta da doença)de tanta agressão verbal e física comigo.
Eu era a que pedia:não tragam notícias chatas!(Como se isto adiantasse!)
Se não podem auxiliar, não atrapalhem.
Dona Alzira Margarida compreendia de uma maneira equivocada e sentia-se cada vez mais à margem de descasos.
Muitas vezes nos questionamos sobre essa relação de laços de sangue, pois não é porque nascemos dentro de uma mesma família que esses vínculos são conclusivamente os mais fortes ou os mais estreitos.
Sempre ouvimos dizer que o sangue sempre fala mais alto.
-Será mesmo?
Aonde está escrito ou aonde se comprovou efetivamente que sangue tem alguma coisa a ver com amor, afeto, carinho, preocupação, amizade, respeito e afeição verdadeira?
-Quem disse que o sangue é maior do que o coração ou a alma?
Amor verdadeiro, amor fraternal, amor incondicional não tem relação alguma com a nossa genética ou com aquilo que corre nas nossas veias.
Quando inexiste o processo de cuidar(arregaçar as mangas e fazer tantos procedimentos inimaginágeis por outros que não possuem o mínimo de afeição)o carro é gênero carroça sem rodas.

O Boi vai na frente babando-arfando de cansaço físico e emocional!(Diga-se:Cuidador que assume).
Não enxerga quem não quer!
-Como saímos de tão difícil aceitação?
Reconhecendo o amor por aquilo que somos e não por aquilo que corre nas nossas veias.
Este é o maior aprendizado até os dias atuais.
Me sentir vitima é um luxo que não pretendi e nem pretendo ostentar, mas em contrapartida, não me enganarei no que vivi, não sentirei algo porque o mundo quer, porque ditam.
-Será que eles superam ou são iguais aos laços de coração e de alma?
-Será que existe algo que possa medir isso?
-Será que nossos vínculos e nossos sentimentos mais profundos podem ser realmente mensurados ?
Amor se conquista, se cultiva e se multiplica.
Ele simplesmente nasce das relações de respeito, de carinho, de amizade.
Amor de coração e amor de alma são muito mais fortes e intensos do que qualquer sangue neste Universo.
Esse amor nada tem a ver com uma relação de parentesco ou consanguinidade, pois esse ele nasce para nunca mais morrer.
É sublime, verdadeiro, que brilha e que simplesmente se sente dentro de nossas almas.
E, por ser assim, é um amor intenso que nada pede ou exige, ele simplesmente existe.
Fico imensamente feliz por ter descoberto esse tipo de amor e por saber que amo e sou amada por aquilo que eu sou e não por aquilo que corre nas minhas veias.
O amor fraternal e incondicional estará comigo por onde quer que eu vá e minha família de coração e de alma também me acompanhará em minhas aventuras por esse Universo.
"Elos" só se preservam se forem azeitados, mantidos mesmo à distância.
Hoje, com a facilidade das comunicações, não há desculpa para nos esquecermos de alguém.
Vale o desejo de continuar tendo a pessoa no rol dos nossos sentimentos mais ternos.
É difícil lidar com os sentimentos de família.
Temos a obrigação de gostar, de ajudar e até de aturar, pela justificativa de que os laços de sangue nos unem.
Às vezes isto não é verdadeiro.
Desenvolvemos antipatias dentro da família, tão ou mais fortes do que aquelas que acontecem nas demais relações.
A convivência familiar nos dá o suposto direito de sermos autênticos.
Como se o mundo fosse uma prisão e o lar o único santuário de liberdade possível e ali pudéssemos ser nós mesmos no sentido amplo da palavra.

Ter gratidão é uma coisa.
Amar porque" tenho que amar" é a pior desculpa que já recebi nessa vida...

Ser órfã de pais vivos é bem pior que um luto verdadeiro.
Ser órfã de família viva é algo muito estranho.

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