Universo de Memórias

sábado, 15 de maio de 2010

Entender um Portador de Alzheimer?

"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi, nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma."
(Ricardo Reis)

Mãe sempre foi clara, objetiva, sincera, franca, amorosa, mas nada infantil ao escolher seus níveis de convivência e afinidades.
Ela teve suas vitórias e derrotas na vida tanto quanto qualquer pessoa neste mundo.
Vida de muita luta, família numerosa de 10 irmãos(5 mulheres, 5 homens). Ela, a caçula, e 4 anos depois veio mais um irmão.
O meu avô faleceu cedo. Não o conheci.
Mais tarde, já casada com meu pai, assumiria minha avó e este irmão mais novo com muitos vícios.
O que marcou minha mãe, foi a experiência e trauma das suas próprias dificuldades internas em lidar com isso.
Temia pela minha avó que na época quis mudar de casa e não mais morar conosco.
A ideia não foi bem aceita, pois em nossa casa mamãe protegia vovó Olívia das investidas malucas deste irmão.
Vó queria dar sossego à filha. E a vontade dela prevaleceu.
Dona Alzira Margarida reconquistou sua auto-estima.
Determinação e auxílio seriam suficientes para mantê-la no caminho reto, mesmo sob intensa e desproporcional pressão.
Uma coisa é certa:
Quando ela percebeu oportunidades de conquistas, de ajudar ao próximo(parentes, amigos, vizinhos e até estranhos) não hesitou em quebrar regras ou colocar-se em situação difícil, mas jamais evitar o risco de julgamentos.
Papai era idêntico! Aí encontram-se as afinidades, o companheirismo, o amor sem pesos ou medidas, a história tão abençoada vivida por eles.
Entender como funciona a mente de um Portador de Alzheimer requer algo mais do que uma simples dedução "clichê" ou empírica.
Neste caso, 2+2 quase sempre não são iguais a 4.
Pode decrescer esta simples soma ou então acrescer o resultado num curto espaço de tempo.
A Sra. Alzira Margarida passou por diversas características típicas da doença até a atual.
Nestes 18 anos de acompanhamento(sem saber do que se tratava no início)em várias ocasiões pensei não dar conta e lembrei-me muito deste passado.
No Alzheimer as células cerebrais começam a morrer e formam cicatrizes em forma de estruturas microscópicas que se designam:Placas Senis.
Com o acúmulo dessas placas, aliadas à morte dos neurônios, o cérebro é impedido de funcionar convenientemente.
São muitos os desconfortos que ela estava passando, já que os remédios não conseguem controlar todos os problemas.
É uma doença sem cura e sem muitas respostas também.
Sem uma única "causa" e sim "várias".
---Quase todos os leitores pensam em: Alzheimer=Perda de Memória.
Somente a exclusão de determinadas doenças que apresentem os mesmos sintomas:
-falta de memória
-agressividade
-depressão
-agitação
Que podem ser confundidas com esquizofrenia, deficiências vitamínicas, câncer, diabetes, tireóide,
infecções urinárias, sífilis crônica, meningite, outras tantas demências, AVCs, poderá fornecer um
"provável" diagnóstico positivo.
Portanto, chegar à este diagnóstico é uma longa maratona.

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