Universo de Memórias

sábado, 29 de dezembro de 2012

Uma chuva

Os anos de cuidados para com minha Mãe estão aflorando minhas percepções realistas e por mais que eu insista, a cada amanhecer, os sinos tocam de uma maneira urgente para comigo.
Cansada, esgotada, pedindo socorro no corpo e na alma.
As pessoas passam por mim, apenas passam e julgam(algumas delas)por desconhecerem totalmente estes 21 anos no atendimento.
Cada qual pega sua mala, sua mochila imaginando uma filha "madame" que  possui todas as facilidades encontradas no mundo terreno.

Outros até riem dos meus desabafos ou setenciam por eu não pronunciar a palavra "Deus".
Alguma diferença faz se tantos vivem orando, falando no Criador e somente nisto se baseiam?
Digo aos evangelizadores: Esqueçam! 
Coloquem a mão em cocô-xixi, troquem fraldas, efetuem a higiene, arrebentem a coluna, dêem comida na boca, fiquem acordados nas madrugadas, tentem adivinhar o que o paciente precisa(quando nada mais fala), privem-se de vários passeios, ouçam gemidos nos períodos críticos pulmonares, administrem tudo!
Fui muito gelada em dizer verdades?
Então falo em Deus(para os crentes de plantão)em 2013: a palavra é...Compaixão!
Assistir, cuidar de uma Mãe sofrendo é no mínimo uma Arca inteira de Noé. 
E fica sempre um questionamento: onde estão os mais próximos?
Hum...onde?
Não cheguei ao mundo afim de proporcionar lições de vida e detesto quando me chamam de guerreira, heroina ou qualquer adjetivo divino.
Não tive escolha. Sou a única. Apenas, tenho amor e garra!!

Vítima? Pena de mim mesma?
Não!!!!!

Marília - numa tarde chuvosa e observando os próprios efeitos que o Alzheimer trás aos familiares que realmente cuidam e não apenas visitam(os quais na maioria se dizem surdos, cegos e mudos e...não visitam).

Uma chuva de beijos aos hipócritas
 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Chegando lá...

Boa tarde!

E estamos a um passo do Natal, pertinho do término de mais um ano.
Em determinados momentos estas datas trazem uma saudade incrível por todos aqueles que se foram(são pessoas importantes na nossa história), aqueles que ainda permanecem, mas não temos mais contato.
A vida é esquisita, às vezes, pois nos direciona e nos direcionamos para outros pensares, outros rumos(naturalmente).
Observamos o mundo, os mais distantes, os mais próximos e a constatação de variados sentimentos.

Como análise própria o ano de 2012 foi mutante, alternado, trabalhado, suado, saldos positivos, alguns nem tanto, porém sem trégua.
Uma andança rápida e sem aviso prévio.
Posiciono meu olhar no hoje cercada de realismos cujo teor é quase isso:
-"A alma diz e o corpo não obedece ou o corpo diz e a alma pondera."

De pronto eu agradeço por tantos aprendizados.
Específicamente ao relacionar-me com gentes porque cada qual têm suas verdades, maquiagens,  sorrisos abertos, choros compulsivos, corações fechados, disfarces de dor, carências, amorosidade, compaixão e outras características às quais estamos interligados.

Digo sempre que o tempo é um acessório do Universo!

Que 2013 chegue como uma continuidade melhorada! 
Paz, Saude, Amor!







quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Jornal Dia a Dia

Ensaísta tinha 85 anos, sofria do Mal de Alzheimer, e morreu no último domingo com pneumonia e insuficiência respiratória.
O poeta Décio Pignatari morreu na manhã desse domingo, aos 85 anos, em decorrência de pneumonia aspirativa e insuficiência respiratória, de acordo com a assessoria de imprensa do Hospital Universitário da USP (HU). O escritor, que tinha Alzheimer, estava com a saúde debilitada e, por causa disso, recebia cuidados paliativos.
A preocupação com a palavra sempre moveu o poeta. Nascido em Jundiaí, em 20 de agosto de 1927, ele foi também semiólogo, ensaísta, professor e tradutor. Desde os anos 1950, realizava experiências com a linguagem poética, incorporando recursos visuais e a fragmentação das palavras. Tais aventuras verbais culminaram no Concretismo, movimento estético que fundou junto com Augusto e Haroldo de Campos, com quem editou as revistas Noigandres e Invenção e publicou a Teoria da Poesia Concreta (1965).
Movimento vanguardista, o Concretismo surgiu em 1953 primeiro na música, depois na poesia, até chegar às artes plásticas. Em sua essência, defendia a racionalidade e rejeitava o expressionismo, a abstração lírica e aleatória. Basta observar as obras surgidas nesse período - não predominava o intimismo tampouco havia preocupação com o tema proposto, pois o objetivo era acabar com a distinção entre forma e conteúdo e, com isso, criar uma nova linguagem. A partir da década de 1960, outros poetas e músicos do movimento decidiram alargar os horizontes, incluindo temas sociais e criando novas tendências, como o neoconcretismo, o poema práxis.
Pignatari foi um dos colaboradores do Suplemento Literário, caderno publicado pela primeira vez pelo Estado em 1956. Em 1969, o poeta foi um dos fundadores da Associação Internacional de Semiótica (AIS) e, em 1975, da Associação Brasileira de Semiótica (ABS). "Décio Pignatari foi um dos artistas mais revolucionários e um dos pensadores mais incisivos que o Brasil já teve", escreveu, no Twitter, o diretor da Casa das Rosas, Frederico Barbosa.
Como teórico da comunicação, Pignatari deixou importantes obras, como a tradução dos textos de Marshall McLuhan. Entre seus escritos, destaca-se o ensaio Informação, Linguagem e Comunicação, de 1968. Sua obra poética está reunida em Poesia Pois é Poesia (1977). Pignatari publicou traduções de Dante, Goethe e Shakespeare, entre outros, reunidas em Retrato do Amor quando Jovem (1990) e 231 poemas. Publicou também o volume de contos O Rosto da Memória (1988) e o romance Panteros (1992), além da obra para o teatro Céu de Lona.
Nos últimos anos, além de se dedicar à literatura infanto-juvenil - lançou Bili com Limão Verde na Mão (Cosac Naify), em 2010, Pignatari analisava a transformação da literatura por causa da evolução tecnológica.
"O fim da literatura está encaixado em um tópico mais abrangente, que é a crise da arte", disse ele, em entrevista ao Estado, em 2010. "Na verdade, o fim propriamente não vai nunca acontecer. O que existe, hoje, é a palavra falada, na forma escrita."
Ele utilizava como exemplo as transformações do verso, que entrou em crise graças ao francês Stéphane Mallarmé (1842-1898), que trouxe para a poesia o radicalismo estrutural e racional de que ela precisava para se renovar. "Mas nem por isso o verso se extinguiu - apenas sofreu modificações", comentava Pignatari. "Quando se fala em fim de uma arte, na verdade, o certo é falar sobre sua transformação acelerada, como uma metamorfose apressada pela evolução tecnológica."
É o caso da forma de se narrar uma história, que sofreu abalos profundos com a publicação de Ulysses, de James Joyce, publicada em 1922. "A visão que se tinha do romance entrou em crise", observou o poeta. "Na verdade, já desde Gustave Flaubert e sua Madame Bovary o enredo perdeu sua relevância: afinal, não se trata apenas de um adultério que resulta em um suicídio, mas de uma escrita que se sobrepôs à trama."
As mudanças são inevitáveis. Pignatari lembrava que, com o desenvolvimento dos jornais na passagem do século 19 para o 20, a literatura foi obrigada a se modificar pois a imprensa passou a narrar histórias incríveis. Também a linguagem literária passou por algumas mutações, pois os jornais traziam um texto direto, compactado, que influenciou a narração e a narrativa literárias. "O ato de se contar uma história entrou em crise, pois a escrita se tornou mais importante", analisava.
Despedida. Pignatari deixa a mulher, Lilla, e três filhos. O enterro será realizado hoje, ao meio-dia, no Cemitério do Morumbi, na Rua Deputado Laércio Corte, 468, em São Paulo.
COLABOROU GIOVANA SCHLUTER