Universo de Memórias

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O calendário anda-A vida segue

Mais de cinco anos na fase avançada do Alzheimer e mãe apresentando os primeiros indícios de um ciclo mais complicado.
Atendimentos específicos com complicações específicas.
Quem diria...não visualizei claramente que em Dezembro de 1991 ela já era uma portadora desta doença degenerativa.
Me perdoem os familiares estreantes neste comprometimento do acompanhar e assistir a tudo por chegar.
A gente pensa, a princípio, nas medicações mais atuantes, nas novidades e que outras situações não baterão à nossa porta.
Há alguns anos ando muito realista e sei de todas as nuances vividas por mais de dezoito anos(quase dezenove)nesta história tão peculiar.
Desde Janeiro de 2010 mamãe(nossa Margarida)debate-se e mostra sua força guerreira em viver!
Porém, minha indagação é:
-Sofrimento?
Pois é...certa vez uma amiga perguntou-me:
-Elas sentem dor?
Curiosamente, em 2008, num leve escorregão(não chegou a cair)mãe fraturou o fêmur e não esboçou uma palavra, nenhum grito de dor.
Levamos imediatamente à uma Clínica de fraturas e de lá para um Hospital onde submeteu-se ao ato cirúrgico.
Para ela, nos exames pré-operatórios, a pressão era 12X8 e as condições gerais boas.
Dormiu a noite inteira, calma, tranquila como se nada tivesse acontecido.
A minha pressão chegou a 18X10(o emocional-não sou hipertensa).
Repetidamente digo: reconheço minha fofa no ollhar(não emite um som sequer), mas dores não vejo. Preocupada se existe algum desconforto examino cada pedacinho do seu corpo arqueado.
Espanto a tristeza quando noto o olhar fixo dela em mim, nos meus cabelos, na minha roupa, no meu rosto, no meu sorriso. Percebi que mamis, desde o início deste ano, me vê da cintura para cima.
O foco maior é nos meus olhos.
Então, carrego neles todas as minhas melhores energias.
As mãos são outras fontes de apoio.
Se sento ao lado dela e abraço...mãezinha adormece sentada.
Pende o corpo para o lado esquerdo sempre.
Fico ao seu lado direito estimulando-a sem sucesso.
A rigidez é intensa e somente nos dias mais quentes um pouquinho de flexibilidade retorna.
Sim. Estou ciente do que nos aguarda.
-Quem sofre?
O familiar cuidador.
Por isto aquelas mesmíssimas frases:
"Um dia de cada vez."
"Curtirmos todos os momentos."
Cai fora tristeza!


 

terça-feira, 15 de junho de 2010

Hoje o falar é curto e respiração longa

Especialmente neste momento lembrei de família e consequentemente da Mãe.
Madrugada de sábado sonhei muito com meu Pai e cheguei a falar e sentar na cama durante o sono.
Lembro-me bem da voz, de palavras ditas por ele.
Comentei com uma pessoa desta viagem feita no sonho e a mensagem direta que me foi repassada.
Cheguei no abraço para Alzirinha(no domingo) e de imediato verifiquei, constatei o aviso.
Ah minha mamis. Mais um degrau abaixo nesta lida de tantos anos.
Os médicos previram, avisaram e mesmo assim não estou preparada.
Alguém, com sinceridade, está?
Tanto esforço físico, espiritual...
Renovando meus pensamentos, elaborando as energias boas e não permitindo a entrada de vibrações negativas.
Rompi a barreira do silêncio e liguei para meu irmão.
Nos entendemos, conversamos bastante.
Virá vê-la. Foi o melhor presente que ganhei hoje:diálogo com meu mano.
O Universo, num todo, dá retornos.
Dá voltas.
Dá o tempo necessário.
Não estou só. Estou com o Pai Maior.
Mãe! Faremos tudo o que pudermos.
Tua filha e teu filho.

Adendo:não virá.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Um olhar atento faz a diferença

Hoje, percebi um olhar esperto, um tanto brincalhão e...
Agora vendo minha mãe, (neste inverno gelado), não pude deixar de
me lembrar (vários programas de férias-verão) da inocência, humildade
e alegria desta mulher que conheço tão bem.
Saudades de uma figura muito simpática, esclarecida e magnética que
pouco se importava com o julgamento dos outros.
Sempre conversava comigo e falava:
-Faça amizades Marília. De dez, uma ou duas serão "di lunga durata"
Divertidérrima!!!! Mil anos à frente do seu tempo, das mães de minhas
amigas e amigos.
Soltava suas pérolas bem humoradas o que nos fazia
quase chorar de tanto rir!
Impublicáveis aqui.
Meu pai sempre foi muito ciumento.
Não esqueço,rss.
Certa vez, um calor daqueles, ele abraçando e querendo escondê-la...
Ela vira para ele e diz:
-Isso é amor ou está querendo me enforcar?(com ar de riso)
-Você está fazendo com que olhem mais, falou Alzirinha.
De tanto abraçá-la fez a alça da blusa dela cair.
Que azar hein pai? Tão ciumento!
Mãe viu e pai tão preocupado não percebeu.
E tudo acabava em gargalhadas entre os dois!  
Quem a conheceu sabe do que escrevo. E sabem bem mais!
A casa de praia sempre acolhedora para quem quisesse entrar e ficar.
Mesa farta, sempre curtindo oferecer o melhor sorriso, a melhor
companhia. Algo tão natural nela. Sem esforço algum.
Não aproveitaram a companhia dela aqueles de nariz empinado, alguns
desgarrados ou sem oportunidade de conhecê-la.
Os netos mais velhos tiveram este privilégio(citando família).
Viveu! Viveu muito bem!
Viajou bastante!
Foi feliz!
Gente boa vale nosso respeito, amor e afeto.
Gente simples e amiga...sem frescuras...ela gostava disso.