Sáb
, 02/03/2013 às 09:36
| Atualizado em: 02/03/2013
às 09:36
Cientistas dizem que Alzheimer faz parte da evolução
Da Redação
A doença de Alzheimer é o "preço" que os "Homo sapiens" devem pagar
para que seus cérebros possam evoluir, segundo um estudo apresentado
nesta quinta-feira (28) na cidade de Burgos, na Espanha.
O estudo, realizado pelo cientista do Centro Nacional de Pesquisa
Humana Emiliano Bruner e pela neuropsiquiatra Heidi Jacobs, do Instituto
Alemão de Neurociência de Jülich, foi publicado na revista Journal of
Alzheimer's Disease.
Para Bruner, esse trabalho abre um novo campo de pesquisa sobre a
doença, que até agora era associada aos danos celulares nas áreas
temporais e frontais do cérebro.
No entanto, a pesquisa desenvolvida durante os últimos três anos tinha
como objeto de estudo uma fase mais adiantada do Alzheimer,
caracterizada por um defeito metabólico nas áreas parietais (parte
central) do cérebro, que são responsáveis pela capacidade cognitiva que
diferencia o homem do resto dos animais, inclusive dos outros primatas.
O cientista também afirmou que a maior mudança no cérebro humano nos
últimos 5 milhões de anos foi o desenvolvimento das áreas parietais.
A consequência é uma "grande vantagem cognitiva", apesar de ela causar
"efeitos secundários", já que a parte central do cérebro pode apresentar
temperaturas elevadas que prejudicam seu funcionamento, além de
requerer intensa atividade vascular - que pode ser associada à
toxicidade e ao alto consumo de energia -, fatores que geram problemas
metabólicos.
De acordo com Bruner, "um motor muito potente e específico das áreas
parietais é extremamente sensível, e por isso pode acabar sofrendo um
processo de neurodegeneração".
Por isso, ele acredita que os danos causados nas áreas temporais e
frontais, associados ao Alzheimer, não são a causa da doença, mas uma de
suas consequências.
Bruner explicou que a identificação das áreas parietais como origem do
Alzheimer justifica o fato de essa doença não afetar outras espécies, já
que se trata de uma zona exclusiva do "Homo sapiens".
O pesquisador reconheceu que ainda não foi possível determinar em qual
momento do processo evolutivo esse problema apareceu, já que o cérebro
não pode ser estudado. Além disso, indicadores da doença nunca foram
encontrados nos ossos do crânio.
Ele considerou "lógico" que a seleção natural não tenha eliminado o
Alzheimer, pois a doença surge sobretudo em idades avançadas, quando o
indivíduo já não pode mais se reproduzir.
O cientista insistiu que seu trabalho não busca uma cura para a doença,
mas uma interpretação diferente que indica a necessidade do
envolvimento de profissionais de várias disciplinas, inclusive aqueles
que se dedicam aos estudos comparativos entre primatas humanos e não
humanos.
Fonte:UOL