Universo de Memórias

domingo, 7 de setembro de 2014

Dia Mundial do Alzheimer

Para todos(as) nós que vivemos ou vivem nestes Cuidados todos os dias do Ano...

Tempo de Alzheimer

Vanderson Carvalho Neri*
A doença de Alzheimer, descrita pela primeira vez em 1906, pelo médico de mesmo nome, se transformou, ao longo desse século, na mais importante forma de doença degenerativa no mundo todo. É também a forma mais prevalente de demência em todos os continentes, em todas as raças e etnias. Com o envelhecimento da população mundial, essa enfermidade, antes desconhecida por muitos, se tornou praticamente um lugar-comum quando se trata de doenças do envelhecimento. Acredita-se que existam mais de 20 milhões de pessoas com essa enfermidade, número que vem crescendo a cada década, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil, cuja população vem vivendo mais a cada ano.
Estamos falando de uma doença degenerativa, de base genética, progressiva, de curso inexorável, e que até o momento não tem perspectiva de cura. Quanto mais idosa for uma população, mais prevalente será essa doença, pois o principal fator de risco para essa condição é o envelhecimento. Outros fatores de risco foram aventados, mas nenhum, até o momento, se configurou como um aspecto de fato comprovado.
Nesses cem anos desde sua descoberta inicial, muito se avançou no conhecimento e entendimento sobre a doença. Sabemos muito mais sobre sua apresentação clínica, sua base genética (já mapeamos o genoma de Alzheimer), novos métodos diagnósticos passaram a existir e muitas drogas já estão no mercado, com efeitos importantes sobre a função cerebral, que é mais comprometida na doença: a cognição. A cognição engloba as funções cerebrais mais importantes para a vida em sociedade, como memória, inteligência, raciocínio, julgamento, tomada de decisões, linguagem, ou seja, altas funções cerebrais, que se perdem aos poucos com o processo degenerativo da doença. Nenhum tratamento até o momento reverte esse quadro, apenas atenua, por algum período, o impacto clínico da degeneração cerebral.
Trata-se, portanto, de uma doença de grande repercussão no organismo do indivíduo que a desenvolve, mas trata-se também, em virtude do grande aumento do número de casos, de um aspecto com repercussões sociais e financeiras na sociedade. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, país que tem a maior casuística estudada sobre a doença, foram gastos com esses pacientes até o momento, cerca de 203 bilhões de dólares em assistência médica, tratamento e hospitalização; acredita-se que até 2050 o número de pacientes por lá deva triplicar, e os gastos cheguem a $ 1,5 trilhão. Sem dúvida, um grande rombo nas contas públicas atribuído a uma única doença.
Outro quesito que se apresenta relevante é o fato  de esses pacientes necessitarem de cuidadores para as atividades diárias; com o avançar da doença, os pacientes se tornam absolutamente dependentes de pessoas para alimentação, higiene e cuidados gerais. Um paciente com Alzheimer pode ter vários cuidadores. E essa “população” de cuidadores contribui para o aumento desses gastos públicos. Nos Estados Unidos eles já somam cerca de 15 milhões de pessoas, população de um estado grande como a Flórida por exemplo. Isso também é um grande impacto econômico, uma vez que esse grupo de pessoas não se enquadra na mão de obra ativa para o Estado.
O fato é que esses dados americanos acendem uma luz de alerta para nós, brasileiros. Somos atualmente um país em franco envelhecimento, com um aumento significativo do número de pessoas acima de 60 anos nas últimas três décadas, e praticamente sem políticas que priorizem essa parcela da população. O drama que vivem os americanos hoje será o nosso também daqui a mais alguns anos, e devemos estar cientes e preparados para isso.
As demências ainda não parecem fazer parte dos planos do Estado no contexto da sade pública. Estamos atrasados nesse quesito, pois o tempo de Alzheimer já chegou para nós. Discutir o planejamento dessa doença, seu aspecto de “epidemia”, e criar estratégias viáveis para conduzir os casos de forma eficaz é essencial para uma saúde futura mais equilibrada e com maior qualidade de vida para os nossos idosos. Isso já não é mais uma sugestão, é uma real necessidade.

*Vanderson Carvalho Neri é médico neurologista. - vandersoncn@yahoo.com.br

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