Universo de Memórias

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A Doença no Mundo

FONTE: SPMJ COMUNICAÇÕES

Doença de Alzheimer: impacto de doença cresce em todo o mundo, com o aumento da longevidade



Pesquisa avança, mas ainda não tem a resposta para a cura. Estima-se que a doença afete mais de 115 milhões de pessoas até 2050.
Cientistas de todo o mundo lutam para encontrar uma cura para a doença de Alzheimer, muito temida, que cresce em ritmo acelerado em todo o mundo, em consequência do aumento da expectativa de vida da população. Quanto mais velha, maior o risco de uma pessoa sofrer dessa patologia que afeta o cérebro, “apagando as recordações” e que condena o paciente, bem como sua família, a uma deterioração devastadora e inevitável da qualidade de vida.
Até hoje, a medicina conhece as causas desse tipo de demência, porém não conseguiu descobrir a cura. As estatísticas indicam que aproximadamente 44 milhões de pessoas convivem com a demência em todo o mundo, número que, segundo se estima, aumentará para cerca de 115 milhões até o ano 2050. Por isso, já se faz referência à Alzheimer como uma epidemia mundial. No entanto, os avanços na pesquisa estão produzindo informações novas e promissoras sobre a origem do problema e trazendo esperanças de se poder detectar a doença em estágios mais precoces, como também definir formas mais específicas de tratá-la.

Pesquisadores da Clínica Mayo, de Jacksonville, Flórida, divulgaramrecentemente os resultados de um amplo estudo realizado em centenas de genes, com mais de 700 amostras de tecidos cerebrais de pacientes com a doença de Alzheimer ou outros distúrbios neurodegenerativos. A médica Minerva Carrasquillo, uma das participantes dessa pesquisa, explica o avanço da doença de Alzheimer e as novas ferramentas para combatê-la à disposição da ciência. Acompanhe sua entrevista:

Se a ciência já definiu que a doença de Alzheimer decorre de um acúmulo no cérebro da proteína beta-amilóide e da proteína tau. Por que tem sido tão difícil encontrar uma droga que cure e previna a doença – ou mesmo uma vacina?
A evidência obtida até hoje indica que a patologia da doença de Alzheimer se inicia com o acúmulo da proteína beta-amilóide, o que resulta em uma cascata de eventos, que terminam com a destruição de neurônios, em regiões do cérebro essenciais para a preservação da memória e das funções cognitivas. Ainda que os tratamentos já desenvolvidos para reduzir o acúmulo dessa proteína tenham apresentado efeito colaterais, temos feito progresso nas tentativas de eliminá-los. A maior dificuldade tem sido encontrar drogas que possam cruzar a barreira hematoencefálica (barreira entre o sangue e o cérebro) e que não produzam efeitos colaterais sérios. Porém, quanto mais aprendemos sobre os fatores genéticos e ambientais, que aumentam o risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer, mais aumentamos o armamento para combater essa doença.

Em que porcentagem a herança genética influencia na neurodegeneração, em comparação com a idade avançada e com fatores ambientais de risco?
Estudos epidemiológicos que compararam a relação da Alzheimer entre gêmeos idênticos (univitelinos) e gêmeos fraternos (bivitelinos) estimaram que o componente genético dessa doença oscila entre 58% e 79%. Portanto, não há dúvida de que os genes exercem um papel muito importante no desenvolvimento da neurodegeneração. Porém, esses estudos também demonstraram que os fatores ambientais contribuem em uma percentagem significativa para o desenvolvimento da doença. Por isso, devem ser estudados, a fim de se determinar se podem ser modificados a ponto de diminuir, significativamente, os efeitos dos riscos genéticos. Embora ainda não se tenha avaliada a porcentagem de risco oriundo especificamente do envelhecimento, sabe-se que a idade avançada também aumenta a deterioração do cérebro, o que, pelo que sabemos, intensifica os efeitos adversos dos fatores genéticos que contribuem para o risco de desenvolver a doença de Alzheimer. Por isso, o estudo de fatores que influenciam na longevidade também pode contribuir para o desenvolvimento de tratamentos para a doença de Alzheimer.

As pessoas que têm antecedentes familiares da doença de Alzheimer contam com alguma forma de prevenção de seu desenvolvimento?
Não. Ainda não se encontrou um tratamento para a prevenção do desenvolvimento dessa doença.

Atualmente, o mercado farmacêutico oferece medicamentos indicados para retardar a progressão dessa doença, quando é diagnosticada. Quais têm sido os resultados conseguidos com o uso desses medicamentos, considerando seus altos custos?
Os medicamentos disponíveis atualmente apenas diminuem a progressão dos sintomas e, infelizmente, o benefício é, com frequência, imperceptível. Por isso, há tanta urgência em descobrir melhores tratamentos.

Qual a diferença entre o estudo recente da Clínica Mayo em comparação com os estudos realizados anteriormente, tanto na Mayo como em outras instituições?
Até há pouco tempo, a maioria dos estudos se concentravam em genes ou em proteínas com funções relacionadas aos sintomas ou à patologia da doença. Nos últimos cinco anos, estudos do genoma identificaram 20 variantes associadas ao risco do desenvolvimento da doença de Alzheimer. No entanto, ainda não se sabe exatamente qual é a função dessas variantes. Portanto, o enfoque de nosso estudo mais recente se concentra em determinar se essas novas variantes causam mudanças na expressão genética no cérebro.

Qual é o principal mérito dos resultados obtidos?
Graças ao grande número de amostras de tecido de autópsia cerebral que foram doadas à Clínica Mayo para a pesquisa de doenças neurodegenerativas, temos capacidade estatística suficiente para detectar associações de variantes com níveis de expressão de genes específicos. Os genes que demonstram ser modulados pelas variantes que foram associadas ao risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer poderiam se converter em novos caminhos de intervenções terapêuticas.

De que maneira esse estudo contribui para a possibilidade de desenvolver terapias eficazes?
Nosso estudo está facilitando a identificação dos genes associados à doença e nos guia para os mecanismos biológicos que contribuem para a doença. O desenvolvimento de tratamentos eficazes depende do conhecimento desses mecanismos biológicos.

Há alguma esperança a curto prazo?
Falar de cura tem sido muito difícil até agora. Porém, é preciso manter sempre a esperança. Milhares de cientistas em todo o mundo trabalham arduamente com esse objetivo em mente e, a cada dia, recebemos mais informações que nos levam para mais próximos dessa meta.

Na recente Conferência Internacional de Copenhague (julho), foi feita referência à relação entre a doença de Alzheimer e a perda do olfato. Essa associação ajudará na detecção mais precoce do problema?
De acordo com os resultados desse estudo, a correlação entre a perda do olfato e a doença de Alzheimer é significativa, porém não é perfeita. Por isso, não se pode usá-la para predizer o desenvolvimento dessa doença. Porém, conforme se especula, será possível utilizá-la em combinação com os exames já existentes para se poder diagnosticar a doença em pacientes, antes que eles apresentem todos os sintomas que até agora têm sido usados para definir a doença, como, por exemplo, a perda de memória episódica.

Em quanto tempo se poderá aplicar esse conhecimento à prática clínica? De que depende o desenvolvimento desses testes?
Ainda que o exame de odor, que foi utilizado nesses estudos, seja fácil de aplicar e não é caro, é difícil prever quando se poderá utilizar esse conhecimento, de fato, na prática clínica. Esses estudos ainda estão em etapas iniciais e requerem confirmação em um grupo maior e independente de pacientes.

Alguns estudos identificaram placas de beta-amilóide na retina de pacientes afetados pela doença. Essa é uma descoberta realmente promissora?
De uma forma similar aos estudos sobre a perda de olfato, os estudos que visualizaram as placas de beta-amilóide no olho concluem que esses exames poderiam ajudar a diagnosticar a doença de Alzheimer em idade mais precoce, medir o progresso da doença e as respostas a terapias. De acordo com os pesquisadores participantes do estudo que visualiza a beta-amilóide no cristalino (a lente dos olhos), a correlação da densidade de placas na lente com o diagnóstico clínico da doença de Alzheimer é muito significativa. Porém, ainda são necessários novos estudos para examinar essa correlação a longo prazo em indivíduos sem demência, para determinar se, na realidade, esses exames podem ser utilizados para diagnosticar a doença em idade mais precoce. Esse estudo foi financiado, em parte, por verbas dos Institutos Nacionais de Saúde e pelo Centro de Pesquisa da Doença da Alzheimer da Mayo.

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