Universo de Memórias

domingo, 24 de outubro de 2010

Tudo Passa!

Essa ideia de que a gente é encontrada num só sentir torna-se um tanto vaga, com certas lacunas.
Essencialmente temos tendências nos sentimentos, na própria personalidade.
No entanto, com a maioria dos arrebatados pelo Alzheimer, o modo de agirem muda com os anos. Alguns conservam seu temperamento e outros mudam radicalmente. Minha Mãe-Alzirinha- é história viva dessa inversão total.
Faz tempo que não relato nada de transformações ou episódios vividos. 

Se o faço é para auxiliar um pouquinho aquelas famílias que sentem muita estranheza ao lidar com seus amores. Para meu íntimo tudo isso não é mais relevante. Um passado distante, Parece nunca ter acontecido.
Pois bem, voltando na caixa de memórias!

Na grama dos fundos de nossa casa Mãe queimava objetos e até cabelo(quando ela própria cortava). Entendendo a fase na qual se perdia, eu tentava auxiliá-la. Percebia claramente da cabecinha confusa, desses atos perdidos e a protegia.
A questão é que ela foi ficando rápida demais!
Furtava isqueiros nossos, as poucas caixas de fósforos que tínhamos na intenção desgovernada de eliminar papéis(sem a menor noção da importância deles). 
Contê-la não era fácil. Ah não era. O perigo era contundente. Muitos documentos completamente perdidos. Aquilo que pude escondi e outros refiz nos cartórios da cidade.
Mamãe, nesta época, revelou-se um carro de fórmula 1(comparativamente) onde sempre chegava em primeiro lugar.
Algumas pessoas diziam: que horror!
Outras: que filha desnaturada!
E mais outras: esta filha é uma irresponsável!
O significado do Longe é este citado acima.
Eu lá tinha condições de responder?
Ficava tão confusa quanto ela e até raiva sentia porque ninguém queria se aproximar, entender, prontificar-se.
Crianças sem noção e arteiras ao extremo ocupam todo o nosso dia...noites...madrugadas!
Se o dia tivesse 30 horas mamis estaria agindo nelas a todo vapor!
E algum remédio fazia efeito?
Nenhum minha gente.
Portanto, não sou diferente, nem Mãe foi diferente.

Sinto que existem alguns detalhes a serem esclarecidos sobre esse assunto.
Muitas pessoas passam a vida acreditando que se lambuzando de prazeres evitarão sofrimentos.
Isso não é exatamente uma verdade. O fato é que amar é um privilégio e uma oportunidade maravilhosa de nos tornarmos pessoas mais evoluídas e espiritualizadas.
Somos seres absolutamente completos. Nascemos dotados de todas as ferramentas que precisamos para sermos felizes, independentemente de com quem estamos, onde e quando estamos.

A felicidade é uma escolha pessoal, um dom que desabrocha no âmago de cada um, um exercício diário, uma busca que se faz só. Viemos ao mundo para uma missão que só pode ser realizada por nós mesmos e por isso nascemos únicos, singulares e individuais.

As pessoas com quem nos relacionamos, as que escolhemos, as que nos escolhem para amar são nossas companheiras de jornada, são presentes e facilitadoras de Deus nos enviando-as para tornar nossa caminhada mais leve e humanizada. Mas, não são, de forma alguma a nossa felicidade, a nossa realização, a essência de nossa vida.

Percebo que, muitas vezes, entorpecidos por um sentimento genuíno de amor, confundimos o que somos com o que o outro é. Atribuímos a nossa felicidade e a nossa razão de existir ao outro e perdemos a referência de nosso real valor.

Assim, passamos a acreditar que sem o outro não poderíamos nos sentir tão bem, que sem o outro toda a beleza e toda a alegria estariam perdidas, como se tudo de bom (e de ruim também) não existisse – antes de em qualquer outro lugar – dentro de nós mesmos!

É isso: tudo o que somos, sentimos e vemos, tudo o que entendemos como mundo é reflexo do que temos dentro da gente. Assim, se somos felizes ao lado de alguém que amamos é porque nos tornamos capazes de sentir felicidade e de amar.
E se somos tristes e insatisfeitos, também é porque estamos exercendo nossa capacidade de sentir tristeza e de não nos satisfazermos com o que temos.

Ninguém é de ninguém porque não somos coisas. Somos pessoas e pessoas são eternamente ímpares. É o que cultivamos e alimentamos em nós que nos faz ser como somos.

Portanto, sugiro que você comece a se apropriar de sua felicidade como mérito seu, assim como de suas tristezas e insatisfações.
E a partir de então, poderá abrir mão das pessoas, desapegar-se, compreender que o amor que você sente por alguém não torna esse alguém seu, mas apenas uma companhia de aprendizagem e de importantes descobertas.

E, no mesmo raciocínio, poderá exercer todos os seus dons, suas capacidades 
afim de tornar a sua vida e a das pessoas que caminharem ao seu lado muito melhor, mais inteira e, sem dúvida, mais verdadeira!

Estamos bem e fortalecidos.
Será que algum ser faz leitura desse blog?

2 comentários:

  1. eu faço....
    acabo de assistir o filme ORIGEM...depois venho ler isto aqui......cabecinha.......adivinha como ficou!!!??
    Beijokas, boa noite!

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  2. Rica, espero ter auxiliado. Ao escrever sempre coloco, primeiramente, aos meus olhos e ouvidos porque também sou aprendiz. Beijos!

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