Uma vida
sem passado e sem presente. Assim é a realidade de quem sofre
de Alzheimer. No Brasil, existem cerca de 15 milhões de pessoas com mais
de 60 anos de idade. Seis por cento delas sofrem do mal, segundo dados
da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). No entanto, apesar de ser
uma doença degenerativa atualmente incurável, o apoio da familia e o
tratamento adequado pode manter a doenca estabilizada.
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa caracterizada
pela perda de uma ou mais funções cognitivas. Ela é progressiva e
provoca o declínio das funções intelectuais, reduzindo as capacidades de
trabalho e relação social. A doença passa por três estágios: leve,
moderado e grave. Nessa última fase, o paciente não reconhece mais
ninguém e perde totalmente a autonomia. Explicou Josecy Peixoto, médica e
coordenadora do núcleo de residência de geriatria do Hospital de Irmã
Dulce.
Causas
De acordo com a especialista, a doença pode se
manifestar em indivíduos a partir dos 50 anos. No entanto, a
predominância em idosos acima dos 80 anos é de 20%. As causas da doença
ainda não são consenso na ciência. “O Alzheimer é resultado da genética e
fatores ambientais, ou seja, a forma de vida do individuo. Por ser
uma doença degenerativa, os sintomas podem aparecer de muitas formas
desde um pequeno esquecimento que pode se confundir com os sintomas
típicos do envelhecimento até alterações comportamentais que
variam da agressividade até a perda total da memória. Por isso, é de
fundamental importância que o idoso e os familiares fiquem atentos aos
sintomas e busque uma avaliação clinica que é a forma mais soberana de
diagnostico”, orientou.
Uma das explicações para a doença se manifestar em pessoas com mais idade é
porque nessa fase da vida ocorre a morte dos neurônios, levando a uma
disfunção cerebral. Algumas manifestam os sintomas de forma mais
leves, outras mais graves. Segundo a médica, o tratamento realizado
atualmente a base de medicamentos, não é curativo mais estabilizador.
“O tratamento permite melhorar
a saúde, retardar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar
as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de
vida ao idoso e sua família. Mas, vale salientar que o afeto das pessoas
mais proximas é o mais benefico”.
Na Bahia,
segundo Peixoto, da população de idosos do Estado estimada
em mais de 1milhão, cerca de 6% sofre de Alzheimer. Segundo
informações do Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso
(Creasi), de janeiro a dezembro de 2013 foram realizados num total
de 4.658 atendimentos na capital de geriatria ou gerontologia, destes
36% são casos de Alzheimer.
A unidade além de assistência médica também tem uma
equipe multidisciplinar com assistentes sociais, fisioterapeutas,
psicólogos e núcleos de apoio aos familiares e cuidadores. Os
medicamentos para portadores da doença de Alzheimer são distribuídos
gratuitamente pela unidade na capital e interior do Estado.
Amor é o melhor tratamento
Geralmente o que o inconsciente coletivo está habituado a
visualizar são mães abdicando do trabalho, e em muitos casos da vida
pessoal, para cuidar dos filhos. Mas com a auxiliar de serviços
gerais, Elizete Farias de Souza, de 55 anos, foi diferente. Ela deixou
trabalho e projetos pessoais para se dedicar a mãe que há mais de que
dez anos sofre de Alzheimer.
Segundo Elizete, a mãe, dona Odete Farias, de 88 anos,
carinhosamente chamada por ela de “Minha Veinha”, começou a apresentar
alguns sintomas de esquecimento, mas a família achava que era da idade e
deixava passar. Ela conta que quando dona Odete começou a esconder
objetos e a ficar agressiva que ela percebeu que precisava investigar o
quadro de saúde da mãe.
”Minha mãe teve dez filhos. Sempre foi uma mulher ativa
cuidava dos netos e de repente ficou distante esqueceu de tudo. Ela não
fala, não anda, não reconhece mais nenhum dos filhos depende de alguém
para alimentá-la, dar banho ou seja para tudo. É uma doença cruel, a
pessoa fica sem história. Não podia deixar ela passar por esse processo
tão difícil com alguém desconhecido. Essa foi a forma que encontrei de
retribuir tudo que ela já fez por mim”, disse.
No caso do aposentado José Lourenço da Silva, de 83 anos, a doença
não lhe tirou toda a memoria. Com muita dificuldade na fala ele diz
que lembra dos filhos e da esposa, mas que fica nervoso quando não
consegue lembrar de coisas recentes. A esposa, Juraci Oliveira da Silva
diz que a família sofreu muito no início por não saber do que se
tratava. “Ele ficava nervoso por causa dos tremores nas mãos e do
esquecimento. Fomos tentando nos acostumar com a nova realidade.
Atualmente ele faz tratamento de fisioterapia e faz usos de
medicamentos. Mas o apoio dos filhos e o meu é o melhor remédio que ele
tem”, afirmou.
OBS: Acréscimos pessoais
Nos 22 anos que convivi em todos os cuidados para com minha Mãe as dificuldades aumentam.
Todos os estágios requerem muito dos pacientes e mais ainda do familiar que assume todas essas estações do Alzheimer.
Vários cuidam sozinhos, o esgotamento físico, emocional é enorme com o passar dos anos.
A realidade compreendida somente pelos de perto ou que tiveram a mesma luta.
Mesmo tendo auxílio profissional de cuidadores, enfermagem o desgaste é enorme. O custo financeiro também o é.
A doença também nos mostra algumas diferenças dependendo do estado clínico geral do doente.
O final quase não difere, pois são como bebês "involuindo" ao útero.
Sim...amor, paciência, cuidados, prontidão e tantos outros adjetivos são essenciais.
Marília Bahr